domingo, 29 de maio de 2011

Nicorotina

Era junho de 2006, meus olhos se abriam, lentamente, enquanto meu relógio apitava sete horas da manhã. Calcei meus chinelos e, cautelosamente, me dirigi ao banheiro e tomei um demorado banho, enxaguando a sujeira do dia corrido.
Voltei ao quarto e vi minhas roupas espalhadas pelo chão, e sem o menor intuito de arrumá-las, chutei-as para debaixo da cama. Abri meu armário e escolhi uma jeans escura e um cardigan vermelho.
Fui em direção à cozinha ansiosa por um café. As lembranças da noite passada já corriam em flashes na minha cabeça. Depois do café, caminhando pela casa, pela primeira vez, acendi um cigarro. Meu primeiro cigarro. Ele me dava uma sensação de conforto, de tranqüilidade que só ele era capaz. Cada trago era tão delicioso, vinha tão bom e tão quente pra dentro da garganta que fazia com que quisesse mais um ainda, e outro em seguida. Era como se nos beijássemos, eu e o cigarro, meus lábios fechado-se numa posição para confortá-lo dentro da boca e eu o tragava, pra dentro de mim, e só meu.
Possessiva que sou, ninguém seria capaz de entender tal situação. Acabado o cigarro, já me sentia mais tranqüila, sentei no sofá e olhei pela janela, ainda faltava tempo. Peguei o celular, nenhuma chamada perdida. Isso me desesperou.
Resolvi acender mais um companheiro. A fumaça prevalecia dentro da sala. E em cada canto, em cada fio de cabelo, em cada fibra da minha roupa, o cheiro de nicotina se impregnava. Logo, acabou de novo. Era um bom companheiro que me ocultava por entre a fumaça.
Lar doce lar, pensei. Era só mais um domingo monótono. 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Better together

Um dia se passara desde aquela dura conversa que tinha tido com ela. Estava sentado tranqüilo, num banco de uma rua pouco movimentada, e quem ali me passa? A linda morena com quem passei o meio ano mais divertido e cheio de conflitos da minha vida. Com cabeça baixa e rebolado retraído, ela passava na minha frente sem ao menos dar-se conta de que meus olhos procuravam os dela.
Ela andava quietamente e, quando já estava ali dobrando a esquina, virou a cabeça e sutilmente acenou com a mão delicada que de uns tempos para cá, já não tocava mais meu rosto, como de costume.
Nesse mesmo dia, voltei pensativo para casa. Entrei no chuveiro, escovei os dentes, jantei, deitei na cama, sempre; sempre com sua imagem dentro das minhas fantasias. Ainda não compreendia o fato de ter terminado comigo por um fulo motivo.
Não compreendia também a maneira como me olhava, como se fosse qualquer homem, como se nada houvesse acontecido, como se tivesse ignorado tudo o que passamos, como se tivesse apagado de sua memória todo o amor e dedicação que tivemos um pelo outro. Como se simplesmente tivesse esquecido que era sempre melhor quando estávamos juntos.
O tempo passava, ela vivia sua vida com novos amores, – assim, como tanto desejava – e eu a minha, rodeado de moças, de beijos e novas sensações. Vivia aquilo com superficialidade, porque, no fundo, ainda pensava nela.
Até que parei para pensar e descobri a verdade. Quando eu vivia de amores falsos, sentia vontade de quebrar CD’s, rasgar cartas, fazer de tudo para me esquecer das coisas que me lembravam ela.
Mas, agora, é tudo diferente. Sinto vontade de ouvir músicas, reler cartas, relembrar dos momentos. Descobri que quando é realmente verdadeiro, o amor nunca morre. Apenas adormece para acordar mais tarde. As mais absurdas situações podem acontecer que ele continuará lá, bem em seu lugar, intacto, ileso, ingênuo, me esperando para socorrê-lo. Sinto... nostalgia.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Há tanto de mim dentro de mim que dá enjoo. Transborda. E vaza. E acaba.

sábado, 14 de maio de 2011

Sete horas


Acordei as seis e meia. O meu celular tocava furiosamente o "Paris Connection" - som que eu infelizmente escolhera para me despertar naquela manhã - apertei freneticamente na função soneca, mas parecia quebrada eu acho. Levantei, coloquei meus chinelos havaiana e caminhei lentamente até a porta do quarto. Abri. Um vento frio me lembrou que estávamos quase no inverno e que eu ainda dormia com aquela camisola-verão. Respirei fundo e fui até a cozinha. Abri a geladeira e mais um ar frio me recebeu. Peguei o leite semi desnatado na porta, abri o armário da despensa e peguei o Nescau. Preparei meu "drink" matinal e sentei para bebe-lo. Meu cachorro sequer saiu de sua casinha para me dar bom dia. Esperto ele, pensei, está um frio do caralho. Podia ter nascido cachorro.
Coloquei o copo na pia, fiquei com preguiça de colocar água dentro, sabia que o chocolate iria secar e depois ia ser um estresse lavar aquele copo. Voltei para o quarto, peguei uma roupa de frio, jeans de preferência. Tomei meu banho. Decidi que não lavaria meu cabelo, estava oleoso, mas o frio era maior que o óleo todo.
Terminei e me troquei, fiquei alguns instantes sentada na cama pensando que deveria ter lavado o cabelo. Afinal, não eram sequer sete horas ainda.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Porque Letras?

É de um encaixe perfeito, os beijos, o corpo, as mãos, o sorriso, a risada... O coração.
São inenarráveis.
É de uma intensidade extrema, assustadoramente estonteante.
Única.
Imprescindível.
Inigualável.
Inevitável .
Implacável.
Essencial.
E a cada dia que eu pudesse, palavras não existiriam pra mim para dizer quer sim, eu estou, e continuo, incondicional e irrevogavelmente apaixonada por você.

domingo, 8 de maio de 2011

Lisérgicos

Você acha que eu gostei de você pelas suas qualidades? Se enganou todinho. Essa faceta de honesto, simpático e boa pinta não cola mais comigo. Não vou bater na sua porta porque você é isso tudo. Vou porque não escolhi gostar de você. A gente é assim, ou é, ou é. Não tem razão.
Acontecemos por pura empatia, magnetismo, conjunção estelar. Ou por aquilo que você acredita. Tanto faz na verdade agora.
Não te amo por causa das coisas que você gosta, ou por causa das coisas que me fazem gostar de você.
Amo por causa do seu tom de voz, pelo jeito como seus olhos piscam, pelo seu cheiro, pela sua pele. É essa toda fragilidade que se revela quando se está longe, ainda mais agora. Você entende?
E mesmo você fazendo jogos e artimanhas, escrevendo histórias, pulando linhas e errando palavras. Eu me esqueço dos títulos e continuo escrevendo seu nome com letras cheíssimas, para preencher em mim o vazio que sua existência me deixou. Por que você é assim, inenarrável.
E é muito difícil amassar o papel e jogar no lixo. Assim. Só assim.

(Inspirado na lisergia de Camila Paier e Tati Bernardi)

domingo, 1 de maio de 2011

Só (des)sintonizados

Nossos olhos se procuram, Vinicius já disse isso pra gente. Nossos corpos se procuram, Bolshoi já criou o ballet disso também.
Sincronizados. Bonitos. Leves. Olhos nos olhos. Boca na boca. Encontro de almas.
Doces que invade. Rasga. Cansa. Vai. Volta. Pensa. Fica. Volta comigo.
Há ainda a beleza que há por vir.