quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Lápis


Era daquela marca bonita, que todos gostam, era um 6B com um toque de 9H. Grafite negro como o céu sem estrela. 17,2 cm. Cor de madeira com uma borracha rosadinha na ponta, envolta por um anelzinho dourado.
Era feliz sendo Lápis. Fazia grandes coisas: desenhos, rabiscos, cartas de saudade, de amor, bilhetes na geladeira... Era feliz sendo Lápis. Às vezes judiavam dele um pouco, deixavam de usá-lo e traziam o apontador, que fazia com que o Lápis sofresse - pobre Lápis - mas isso só deixava ele cada vez mais afiado. Aquele Lápis... Sabia suportar grandes dores e transformá-las em coisas lindas depois. Sempre que errava, tinha sua borrachinha para corrigir. Bastavam duas, três esfregadinhas da direita pra esquerda e da esquerda pra direita e tudo o que tinha dado errado já não estava mais lá. E era só começar tudo de novo! Sorte de Lápis, eu diria.
Com o passar do tempo ele estava ficando pequeno, e feinho por fora, com a madeira já meio descascada, a borracha já no finzinho. Mas o Lápis ainda tinha grafite, e era o grafite que formava o Lápis, que fazia do Lápis um Lápis.
Um dia o Lápis acabou, foi usado inteirinho, até não restar nem um pozinho para continuar a história. Mas o importante foi que o Lápis deixou sua marca, sua história, suas verdades. E foi isso que importou pra ele, que ele foi um Lápis feliz.

sábado, 3 de setembro de 2011

Não busque a felicidade muito longe.


Lembra do nosso primeiro beijo? Sei que em algum lugar aí, mesmo que bem no fundo, você lembra.
A rua vazia. A lua cheia. Nós dois caminhando separados. Você, como sempre, alguns passos à frente. E eu pensando por que estava demorando tanto. Foi quando caiu a primeira gota, bem na ponta do meu nariz, e eu te disse "Vai chover" e você, tão de repente, parou, deu todos os passos à frente para trás e encostou sua mão no meu braço foi subindo, pegou no meu queixo e me puxou pra frente. Parece que você só estava esperando isso.
Me disseram esses dias que beijo na chuva é amor eterno. A mesma pessoa poderia me dizer então, o que é eterno? Acho que a verdade é que afinal, saudade é o preço que se paga pra ter momentos inesquecíveis.

domingo, 26 de junho de 2011

Sai em paz e me deixa daqui.

Bom dia. Acordei e desliguei meu despertador. Sete vezes. Ele apitou e eu PÁ desligava. Não queria acordar. A maior pré tava ali na minha cama. Daí decidi levantar e não ir trabalhar. Ia desprogramar tudo. Virar a bússola ao contrário pra ver se meu norte mudava um pouco. Sentei pra escrever e variar os pensamentos. Realidade demais endurece a gente as vezes. Rasguei os textos que eu tinha que ler. Deixei tudo ali no lixo. Pelo menos até passar.
Eu quero férias, e meus pés novos caminhos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Back to Black

Sentei-me à mesa da varanda do restaurante, com meus cabelos presos em um coque alto, cobertos por um chapéu, dos mais elegantes que se podia imaginar para a época. Lembro-me do tailleur e dos saltos altos que estava usando, vermelhos, vermelhos paixão.
Ele chegou com afobado, com seus cabelos lisos e pretos caindo na testa. Sentou-se a mesa. Eu tirei uma de minhas luvas, levei a mão ao seu rosto e delicadamente afastei os cabelos. Um gesto de carinho dos mais profundos partindo de mim.
Ele não esperou sua respiração se acalmar me disse logo, sem ao menos piscar “Eu estou de volta com ela”. Ele voltou, voltou àquilo que ele conhecia, àquilo em que não se perderia. E eu só abaixei meus olhos, segurei as lágrimas, trocamos apenas mais algumas palavras de adeus. Ele voltou pra ela. Isso me matou cem vezes. E mais cem vezes eu pensei que ele havia voltado.
Ele voltou pra ela. E eu voltei à nada.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Matchpoint (do ponto de vista dele)

A última semana foi tensa. Cartas, fotos, cheiros, presentes, lembranças e os restos me perseguiam por todos os cantos da casa. Pegava algo, qualquer pequena coisa, e por fim, lembrava-me dela ou de algum pequeno momento em que o teu olhar cruzava com o meu e nós dois de mãos dadas ficávamos sem jeito com o ato.

Quinta-feira ela me ligara com voz rouca de choro e dizia com outras palavras que precisava de mim. Fui até ela, que se jogou nos meus braços soluçando e soltando palavras sólidas que se desfaziam no ar. Seus olhos inchados me procuravam e dificilmente sabiam o que dizer. Abracei-a com força e tentei acalmar sua dúvida, seu sofrimento. Quando sai, arranquei-lhe um sorriso curto, mas verdadeiro.

Consegui ajudá-la, mas não curá-la, já que o amor é existente, mas os seus remédios, não. O tempo poderia passar, mas não o diminuiria, nem a ausência o enfraqueceria, nem a ingratidão o esfriaria, nem a raiva mudaria um pouco dele. A rejeição dela me confundia e me fazia pensar se realmente valera a pena. Até certo ponto, acreditava que sim. Acreditava que ainda vivenciaríamos novas coisas juntos, que ainda existia uma vírgula em nossa história.

Ela ainda me olhava com aquele seu jeito meigo e avassalador que me prendia sempre, mesmo que por pouco. Ah, aquele olhar, aquele sorriso! Ainda me deixavam em um estado alterado. Mas sabia que o que se passava na sua cabeça no momento não permitia o aconchego de seus lábios tão depressa. 

Sábado à noite fomos a uma mesma festa na qual todos os nossos amigos estavam. Quando cheguei lá estava ela sentada a mesa, toda enfeitada. Olhando vagamente para mim, me cumprimentou. O cheiro da sua boca apresentava toque de álcool. Entorpecida com sua alegria falsa, ela ria alto em uma risada estridente que ecoava. 

Ela ia para o centro do salão, e se gabando dançava com todas as forças em um balanço de quadril indiscreto que não impedia que olhares e flertes viessem até ela. Sassaricando toda-toda ela ainda sorria, mostrava os dentes e olhava para mim como se fosse a primeira vez. Puxava meus olhos para os dela.

O tempo passava e eu via que cada vez mais os nossos amigos se aglomeravam em um canto escondido do lugar. Todos eles, embriagados do próprio riso e dor, ali de pé observando a fatalidade da cena. Olhava para aquilo e perguntava se era sonho ou realidade. Mas os outros vinham até mim com os rostos afetados que já respondiam à pergunta. E depois, ela saia caminhando pelo salão com seu rosto mesquinho, nariz empinado sem sequer dar valor a minha existência.

E ela ainda continuava andando pelo salão, balançando a cabeça e olhando para mim como se fosse insignificante, como se fosse um... Nada. Ela tinha diamantes por fora e apenas pedras duras por dentro. Não entendia mais nada. As respostas estavam no silêncio que madrugada afora me perseguiu.

sábado, 4 de junho de 2011

Os três


Enquanto o outro fazia carinho no cabelo
Meu ex esperava uma ligação
A mesma que deixaria o atual aliviado
E que ligaria os pontos dessa questão

Enquanto o ex se iludia com lembranças
O atual colocava a cabeça no travesseiro
O mesmo que o outro amassara noite passada
Depois de me beijar o corpo inteiro

Enquanto o atual sorri para os meus parentes
O outro fuma adoidado
Cigarros que deixam o ex pensando
Se quando eu fumo ele é lembrado

Enquanto eu penso que o atual não é suficiente
Que é o outro que merece ser mostrado
E que ex passado não some de repente
E que é assim a vida que eu tenho levado

O atual já sabe que vou ser ex um dia
O outro já percebeu que merece mais
O ex já quase nem lembra o que queria
E no fim fui eu que fui deixada para trás