segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Os dois últimos cigarros.



Eles sentaram debaixo da árvore. Conversavam. Nenhum assunto em particular. Era só pra matar o tempo. E entre um riso e outro achar uma razão boba pra encostar as mãos.
Sentaram um pouco mais perto. Se olharam. Ela desviou e ficou fitando os desenhos na parede por um tempo. Ele se afastou, puxou do bolso um maço de cigarro e um isqueiro.
Ela olhou e pediu pra que ele não acendesse. Ele disse que tudo bem. Colocou o maço no banco, entre os dois.
Ela pegou o maço, abriu. Ainda havia seis cigarros. Pegou um e colocou-o  de volta ao contrário. Disse pra ele que tinha feito um pedido. Era o cigarro do desejo dela. Pegou outro e deu pra ele, disse pra fazer o mesmo. Ele fez. Fechou os olhos, abriu olhou pro cigarro durante alguns instantes e colocou-o de volta à caixinha. Aquele seria o cigarro do desejo dele.
Se olharam de novo. Ele desviou. Levantou-se e disse que precisava ir. No terceiro passo ela pediu pra que ele não fumasse os cigarros dos desejos. Ele disse que não fumaria. Voltou. Deu um beijo na testa dela e continuou a andar.
Ela ficou sentada.
Ela desejou que ele...
Ele não desejou nada.
Deixou os cigarros guardados.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A tristeza dos outros

- Oi.
- Oi.
- Nossa, que cara é essa?
- A de sempre.
- Credo... Tá de mau humor?
- Nem tô...
- Não parece.
- Me deixa... Que saco.
- Tá, só quis saber...
- Tá tudo bem.
- Mesmo?
- É. Mesmo.
- Então tá.
- É só que... Ah! Deixa pra lá.
- Deixa o quê?
- Não me ligou.
- Ainda nessa?
- Tá vendo, por isso que não te conto. Você não compartilha da minha tristeza.
- Não?
- Não.
- Tá.
- Só que de qualquer forma, ele não ligou.
- E você?
- Eu o quê?
- Ligou?
- Claro que não.
- Por quê?
- Ele que ligue se quiser ligar.
- Você é sempre assim?
- Assim como?
- Inflexível.
- Não sou inflexível.
- Tá...
- Me deixa...
- Tá...
- Mas ele que ligue.
- Você tá triste porque ele não ligou?
- Claro que eu to triste por causa disso. Eu gosto dele, ele gosta de mim, então ele devia me ligar.
- Se você gosta, liga.
- Não quero e ponto. Vamos mudar de assunto.
- Ok, liga a tevê aí...
- Tá.
(...)
- Que mania ridícula essa sua de se intrometer na tristeza alheia.
- Eu sei.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Saudades de casa...



Da sala, do quarto, do meu quarto, da minha cama, do cachorro na cama, do sol na cama, de tomar sol no chão da sala, da sacada, das minhas flores na sacada, dos meus livros, de escolher meu livro de dormir, do meu banheiro, das minhas toalhas, do meu xampu, do cheiro do meu sabonete, da cozinha, da bagunça da cozinha, da comida, da comida da minha mãe, da minha comida, da louça, de lavar a louça, da casinha do cachorro, do cachorro latindo quando eu chegava perto da casinha, da ração do cachorro, da água do cachorro, da varanda, do cheiro de roupa limpa, do barulho da máquina de lavar, do quartinho, dos livros do quartinho, da bagunça do quartinho, do quarto da minha mãe, da cama do quarto da minha mãe, da minha mãe, da sala, das conversar da tv, dos domingos em casa, da minha casa.


Saudades. E é só.