quarta-feira, 8 de junho de 2011

Matchpoint (do ponto de vista dele)

A última semana foi tensa. Cartas, fotos, cheiros, presentes, lembranças e os restos me perseguiam por todos os cantos da casa. Pegava algo, qualquer pequena coisa, e por fim, lembrava-me dela ou de algum pequeno momento em que o teu olhar cruzava com o meu e nós dois de mãos dadas ficávamos sem jeito com o ato.

Quinta-feira ela me ligara com voz rouca de choro e dizia com outras palavras que precisava de mim. Fui até ela, que se jogou nos meus braços soluçando e soltando palavras sólidas que se desfaziam no ar. Seus olhos inchados me procuravam e dificilmente sabiam o que dizer. Abracei-a com força e tentei acalmar sua dúvida, seu sofrimento. Quando sai, arranquei-lhe um sorriso curto, mas verdadeiro.

Consegui ajudá-la, mas não curá-la, já que o amor é existente, mas os seus remédios, não. O tempo poderia passar, mas não o diminuiria, nem a ausência o enfraqueceria, nem a ingratidão o esfriaria, nem a raiva mudaria um pouco dele. A rejeição dela me confundia e me fazia pensar se realmente valera a pena. Até certo ponto, acreditava que sim. Acreditava que ainda vivenciaríamos novas coisas juntos, que ainda existia uma vírgula em nossa história.

Ela ainda me olhava com aquele seu jeito meigo e avassalador que me prendia sempre, mesmo que por pouco. Ah, aquele olhar, aquele sorriso! Ainda me deixavam em um estado alterado. Mas sabia que o que se passava na sua cabeça no momento não permitia o aconchego de seus lábios tão depressa. 

Sábado à noite fomos a uma mesma festa na qual todos os nossos amigos estavam. Quando cheguei lá estava ela sentada a mesa, toda enfeitada. Olhando vagamente para mim, me cumprimentou. O cheiro da sua boca apresentava toque de álcool. Entorpecida com sua alegria falsa, ela ria alto em uma risada estridente que ecoava. 

Ela ia para o centro do salão, e se gabando dançava com todas as forças em um balanço de quadril indiscreto que não impedia que olhares e flertes viessem até ela. Sassaricando toda-toda ela ainda sorria, mostrava os dentes e olhava para mim como se fosse a primeira vez. Puxava meus olhos para os dela.

O tempo passava e eu via que cada vez mais os nossos amigos se aglomeravam em um canto escondido do lugar. Todos eles, embriagados do próprio riso e dor, ali de pé observando a fatalidade da cena. Olhava para aquilo e perguntava se era sonho ou realidade. Mas os outros vinham até mim com os rostos afetados que já respondiam à pergunta. E depois, ela saia caminhando pelo salão com seu rosto mesquinho, nariz empinado sem sequer dar valor a minha existência.

E ela ainda continuava andando pelo salão, balançando a cabeça e olhando para mim como se fosse insignificante, como se fosse um... Nada. Ela tinha diamantes por fora e apenas pedras duras por dentro. Não entendia mais nada. As respostas estavam no silêncio que madrugada afora me perseguiu.

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